Como pode alguém se apropriar de uma coisa que não lhe pertence?
Ou, como pode alguém reivindicar uma coisa que (ainda) não lhe pertence?
Um testamento tem algum valor enquanto o testador vive?
Estas indagações nos trazem um novo olhar sobre a parábola do filho pródigo.
Foram reflexões trazidas pelo bispo Fábio Saraiva ao pregar sobre gratidão.
Ele reparou que a atitude do filho mais moço foi ingrata ao pedir ao pai a sua parte na herança, uma vez que ela só passaria a pertencer a ele quando houvesse a morte do testador.
De igual modo o filho mais velho que ficou chateado com a recepção do filho pródigo. O pai o lembrou: “Tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas” (Lucas 15.31).
Neste ponto, percebe-se que o filho mais velho podia se apropriar de uma coisa que não lhe pertencia: o pai permitiu isso.
“Ingrato não é apenas quem sai da casa do Pai. O ingrato pode estar dentro da casa do Pai se apropriando de algo que não lhe pertence ainda”, observou o bispo Fábio.
Para ele, o que chama a atenção é que o ingrato não tem tempo de olhar para o Pai e perceber que tudo o que o Pai tem é dele. Além disso, observou que em nenhum momento, o Pai foi ou enviou emissários para procurar o filho. Já o irmão mais velho estava de olho em seu irmão, mesmo distante.
"Como ele sabia que o seu irmão havia gastado a herança em prostituição? E se soubesse, por que não foi ao encontro dele para ajudá-lo?", indaga.
O bispo compartilhou que o ponto chave dessa parábola é o inexplicável amor de um pai que vai correndo ao encontro do filho que volta para casa cabisbaixo, se rastejando e envergonhado por ter desperdiçado a herança que recebeu.
“E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço, e o beijou" (Lucas 15.20).
Diria que o mais constrangedor é o reconhecimento da vergonhosa atitude de se apropriar de algo que não é nosso.
♫♪ Fui embora, disse, ó Pai, dá-me o que é meu / Dá-me a parte que me cabe da herança / Fui pro mundo, gastei tudo / Me restou só o pecado / Hoje eu sei que nada é meu, tudo é do Pai ♫♪
O detalhe é que, hoje, pelo sacrifício de Jesus na cruz, podemos nos apropriar de “uma herança incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus” para nós (1 Pedro 1.4), pois o nosso testador já morreu, mas, vive, reina e voltará.
No entanto, o constrangimento continua porque essa graça é imerecida. Cristo morreu no lugar de pessoas que não mereciam este sacrifício, como eu e você.
Como não amar e não se lançar aos pés de Jesus e procurar viver como perdoados?
Ouça "Tudo é do Pai - Padre Fábio de Melo":
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